sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Água: Da Abundância à Escassez.


Terra, planeta água! Cantada em prosa e verso este líquido tão valioso está deixando muitas cidades e estados em situação de alerta e com uma grande dor de cabeça!

É o caso da cidade de São Paulo que, de uns meses para cá, vem amargando uma triste situação com seus reservatórios cada vez mais baixos devido à estiagem de chuva. Não só o estado de São Paulo está preocupando seu governo e seus cidadãos.

O estado do Rio de Janeiro também está vivendo uma situação semelhante, pois mesmo com as chuvas (escassas) que têm caído o nível dos reservatórios do Rio Paraíba do Sul, o mais importante de nosso estado e que também banha os estados de Minas Gerais e São Paulo, chama atenção. É a maior seca dos últimos sessenta anos!

"Segundo Flávio Rodrigues do Nascimento, geógrafo e professor do Departamento e do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFF, “em condições globais climáticas, com reflexos regionais, estamos passando por momentos de extremos: sejam de secas ou cheias. A irregularidade destes fenômenos vem se dando com força desde a última década. Temos que nos preparar para esta nova realidade ambiental. Os tomadores de decisão política, empresários, o estado, a sociedade civil e os outros agentes organizadores do espaço devem considerar esta uma questão atual, real e muito séria”. 

O professor, que também é autor do livro "O fenômeno da desertificação", explica que a intervenção humana acentua o desequilíbrio do meio ambiente. Segundo Flávio, o problema não está ligado apenas à contaminação dos corpos hídricos, do desmatamento das matas ribeirinhas e das florestas e do assoreamento de rios e reservatórios. Para ele, o desmatamento generalizado e a expansão agrícola em direção à Amazônia, afeta a dinâmica interativa entre superfície, atmosfera e oceanos. “Se engana quem pensa que a dinâmica ambiental não é interligada e que os impactos negativos atingem áreas distintas, em escala e magnitude. O sudeste, por exemplo, vem sofrendo não só com seus problemas ambientais citados acima, mas também com o avanço do rápido desmatamento da Amazônia. O governo tem sua responsabilidade, como agente maior, mas toda a sociedade é responsável. Especialmente agroindústrias e indústrias”, enfatiza." 

De acordo com ele o estado do Rio de Janeiro está despreparado, no que diz respeito à gestão de bacias e ao gerenciamento de recursos hídricos. Somos dependentes diretamente do rio Paraíba do Sul,um rio federal, motivo de disputa com o estado de São Paulo, o  que nos torna vulneráveis.

O professor reforça que, em caso de uma crise de abastecimento, a situação do Rio de Janeiro seria “muito mais complicada” que em São Paulo, devido à dependência de um rio federal e ao “despreparo histórico” que o estado tem no trato da água. “O abastecimento desigual que o sistema público hídrico promove, faz com que certas áreas sejam privilegiadas em detrimento de outras. Sendo assim, áreas mais carentes da cidade são mais vulneráveis e sofreriam de toda sorte os problemas advindos de uma crise desta monta, alerta."

Recentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, noticiou que estaria pedindo a transposição da represa Javari, que alimenta o Paraíba do Sul, para o sistema Cantareira. O Diretor Presidente da ANA (Agência Nacional de Águas) afirmou que esta transposição estaria em vias de se viabilizar.
Professor Flávio acredita que, se a transposição do Paraíba do Sul for viabilizada, o abastecimento do Rio seria prejudicado. Ele explica que os níveis de vazão podem reduzir drasticamente em momentos de crise hídrica, como o que estamos vivendo agora. Em uma alusão, o professor diz que teríamos “uma mesma caixa de leite dividida para várias bocas". Um caminho apontado pelo professor é que o governo busque “alternativas urgentes e emergentes” sobre o manejo das bacias hidrográficas do Rio, especialmente, da Região Metropolitana. “Outra questão, igualmente importante, é que esta metrópole está entre as que mais consomem e desperdiçam água na América Latina. Rever os padrões e tipos de uso da água se faz necessário. Especialmente, devem ser desenvolvidos trabalhos de diversas montas para se evitar o desperdício”, ressalta.

A saída será que haja mais dias e melhores índices distributivos de chuvas para que a situação se
normalize. “Os barramentos indevidos de pequenos rios e afluentes, bem como a canalização inadvertida de nascentes, contribuem sobremaneira para esta situação níveis críticos, não só nesta represa, mais em muitas outras. Então, a recuperação de nascentes, o não represamento de afluentes, assim como a manutenção da vegetal são alguns dos elementos necessários para manutenção do ciclo hidrológico e produção natural de água”, aponta. Em outras palavras, Flávio defende que as ações humanas sejam  revistas, replanejadas e fiscalizadas para que nos momentos de crise, reservatórios como o de Itatiaia  demorem mais dias com águas acumulada acima de níveis críticos, que tem 30% como limite mínimo.
O professor atenta para o fato que serão necessárias ações conjuntas e integradas para resolver o problema. “Quando se faz a gestão de uma bacia, não só a questão da água deve ser observada. Mas também do solo, vegetação e outros recursos naturais, associados às tipologias de uso e ocupação do solo no espaço”, enfatiza.

Para o professor Jefferson Silveira, do Instituto de Geologia e Geofísica da UFF, utilizar a natureza a favor da preservação é um cuidado que pode ser tomado pelo homem. Uma iniciativa que pode ser executada nesse sentido é investir na captação da água da chuva, como exemplifica Jefferson. “Com tratamento, essa água pode se tornar potável. Uma política de incentivo de armazenamento de água de telhado vai ajudar a combater as enchentes também porque implica em reter a água e, se eu retenho água, posso armazenar essa quantidade e reaproveitar para lavar o carro e a calçada. É claro que passa por uma política de vontade do governo e de educação. Implica em planejamento, saneamento e transporte”, explica o professor. (Fonte Jornal do Brasil)
Marcelo Drumond
Vereador
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